Flautas de Bambu…

Aqui onde a curva de Minas sobe um pouco mais,
o Céu também ganha outros estandartes,
peça de quatro mãos.
Dali o Sol em degradê se esconde,
e é agasalhado pelo polvilho que verbera tal qual algodão doce
a deslizar em teus lábios e tua língua.
O vento faz cirandar os galhos das árvores,
que até cantam entre as frestas das folhas,
por serem flautas de bambu namorando os ouvidos teus.
Mas o Céu, ah o Céu, com suas nuvens nubladas,
também beijam aquarelas
com os pincéis dos teus olhos.

(Fernanda Fraga, poemas Flautas de Bambu, 07de julho de 2013 )

✓Postado em meu blog antigo: http://mefaltaumpedacoteu.blogspot.com/2013/07/flautas-de-bambu.html?m=1

¶ Imagem desconheço autoria

Não Importa…

Não importa em que janela amanheço
Quais pousos me entreguei
Importa mesmo
é a inteireza dos voos
e em que se alegram
o passeio dos meus pés,
E saiba que é possível
você mergulhar noutros vitrais
Ou melhor ainda,
que se pode atravessá-los
sem perder de si
Não importa as bússolas
Ou a tantas vezes você desistiu
de ver seus próprios escuros,
Não importa os mapas,
há sempre um feixe
de luz adiante
Importa é se recompor consigo
E perceber os milagres que te revelam
a cada improvável instante
eles te celebram
A se realizar sem descrer
de suas sementes
só porque se permitiu
estar à beira de si
Só porque o é.

(Fernanda Fraga, 24 de abril de 2021)

“…o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia…” (João Guimarães Rosa)

¶Foto desconheço autoria.

Admiração

Teu olhar me iluminou
os dias escuros
Alegro saber que os galhos secos do tempo
Não definharam as flores
que semeamos no solo
chamado ternura e admiração
Guardo ao peito a regá-las
Tampouco invernarão nossas primaveras;
Posso saber-me delas
através deste presente
da tua amizade,
deste amor
todos os dias.
Assim como nossas playlists
e suas preces a mim.
A nutrir cada reencontro
festejar tuas conquistas
tal qual como celebras meus pódios,
Costuro em poesia a delicadeza
e toda doçura em que me recebes
em teu mundo
E no teu abraço o aconchego
aos meus desânimos
Me enriquece e me renasce ter do lado
a sua força e liberdade motriz
A me incentivar
a ser melhor cotidianamente
Contemplo este ser sublime que és,
a me admirar
e me dás em tom de verso nomeado:
Meu Algodão rosa, minha mão segura a tua.

(Fernanda Fraga, 18/04/2021)

¶ Imagem desconheço autoria

¶ Poema dedicado a uma das minhas melhores amigas.

Pertencer…

Andava um pouco distante da interação pelas redes. Sempre que se abria um espaço, atualizava seu cantinho. Já teve quem achasse que abandou a literatura, por não ter uma constância neste meio. Por isso deixou de ter alguma existência nesta janela de conexões. Possuí outros ofícios, que se dedica com total inteireza quanto em seus poemas. Pra quem chegou agora ou talvez não saiba. Sua profissão é a fisioterapia há 12 anos, tem formação em acupuntura, além de outras técnicas ligadas a física quântica. Seu tempo se complementa nestes ofícios, de mãos, ombros presos, dores, alívios. Tantas virtudes e belezas que se reencontram porque o corpo do outro já deixou de doer. E adiante nas palavras, há quase 18 anos mergulha na poesia. E desde assim, sempre se apresentou neste vitral. Havia ela ensinado sobre alívios, aprendido a se sentir bem com os seus voos e recomeços. Havia ensinado e aprendido sobre reesignificar e ensinou a tantos mais. Sua poética percorria um oceano inteiro. Às vezes só percorria o vizinho do lado, que se encontrou liberto ao ler um poema seu. Havia ali uma fração do seu ser e salvou de si mesma. Um ensaio, um divã terapêutico, uma verdade inteira. Mas veja, repare só, ainda que ela te ensine a se aliviar e alongar a alma. Deparou-se em uma noite dessas, com um poema plagiado. E inúmeras justificativas de quem havia invejado por um instante ter pra si aquelas letras. Ainda que ela te ensine sobre alívios, mesmo também sendo imperfeita; nada dá liberdade de aproveitar de suas ausências nesta janela virtual. Na esperteza de levar pra si sua poesia, sem pontuar seu nome;
a ocultar dela a sua digital. Tentaram abafar, tentaram calá-la! Eram tantas justificativas onde jamais irá justificar o injustificável. Ela se sentiu roubada, ferida, ainda que lisonjeada porque de alguma maneira sua arte estava lá, vista por outros olhares: esplêndida como é! Estava lá apreciada, mas todo o meu versar que escrevi depois de um beijo macio na boca. Estava lá, que se leve o que tiver de levar, mas dê o direito à pertença. Respeite a tinta do pincel da tela do pintor da esquina, mesmo que este seja um desconhecido, morador de uma casinha lá no pé de uma montanha, no interior do interior do Brasil. Ele ainda não é visto, reconhecido, mas é um artista nato, o melhor artista que se viu. Semeiem as palavras de poetas grandes a nos inspirar sobre os despropósitos. Ambos merecem igual respeito legitimados aos seus nomes. O que se ocultou, ou se quis reparar de um dano, não importa. Não importa porque você se vestiu de sua ótica, que pouco doeu em você. E como única pauta de suas desculpas a passar pano, insinuava não perceber os óbvios. Saiba que em qualquer dos bastidores de suas atitudes, ele diz mais sobre você e seu caráter do que de mim mesma.
(Fernanda Fraga, 17 de Abril de 2021)

¶ Imagem desconheço autoria

Ser Inteira…

Saltando por sob cacos de vidro e sentimentos teus. Macios toques a afagar minh´alma.
Em tempo fluido de águas claras, pus-me a rebuscar teus quereres, teus carinhos tão graciosos: pele a pele. Suspiros, arrepios, volúpia. Mas é difícil lidar com o passageiro, porque ela nasceu para o eterno.
E percorrera seus caminhos que exalam um perfume intocável, inausente e tão presente em mim. Ela vai todos os dias ao encontro daquilo que têm pincelado as nuvens do teu céu. Como aquela música que compomos aquele dia… Uma melodia matutina. Orquestrada. Pressentida. Peregrina. De Ópera divina. Por nossos beijos pautados e descompassados de lábios de venturas.
Onde ela suspirava pelas madrugadas a buscar seu alento, de abraços em noites acontecidas. Úmido gosto de beijos preenchidos, em cada canto nosso entreaberto. Sequioso. Eloqüente. Sim. Foste tu que atravessaste todo o oceano, território meu aqui escondido.
E foi alinhavando os contornos do meu corpo, me vestindo e desnudando com tuas vestes. No mesmo compasso que trouxe teu carinho a mim. Porque na verdade ela não queria ser só silêncio, só uma parte. Ela queria ser inteira.

(Fernanda Fraga, 29 de Janeiro de 2011)

📍Poema em prosa postado originalmente em meu blog antigo Me Falta Um Pedaço Teu :
http://mefaltaumpedacoteu.blogspot.com/2011/01/ela-nao-queria-ser-so-o-silencio-so-uma.html?m=1

Teus Passos…

Deixa-me ouvir estes versos
Tecidos entre os regados dos pés de maracujá
A vazar-se nos candelabros
Nos feixes murmurantes, dos teus olhos de infinito.
Por sob a maresia que perdura o teu espaço,
E silencia em todo o vão,
E descarrilam-me arraigados
Para habitar-se no oceano e nas persianas do céu.
E inevitavelmente transitam
entre as conchas de tuas demoras
Tuas horas vislumbrando o tempo.
Uma saudade sem ter cais,
Um barco sem o teu porto.
Essa exatidão onde verso falta tua.
Essência que desafogou os medos
Fragrância a se deslizar na pele das minhas mãos
Enquanto cultivo rimas para os teus dias.
Ponte tecelã a desenhar,
a geografia dos teus passos.

(Fernanda Fraga, poema Teus Passo, escrito em 30 de Janeiro de 2014)

Postado em meu blog antigo:
http://mefaltaumpedacoteu.blogspot.com/2014/01/teus-passos.html?m=1

Arte da imagem: Beatriz Martin Vidal.

Sobre Farsas

Todo plagiador é uma espécie a ser estudada. Ele vive um paralelo entre a realidade e a fantasia por assim dizer. Sua filosofia não tem entrada sequer em uma Nárnia. Acredita ser possuidor da criação do outro, apodera-se dela, reinventa-se ela, na tentativa fracassada e vil de molda-la para si. Segue o fluxo de suas letras mirabolantes e bem forjadas para que possa parecer ser sua.
Anula a si na mesma tentativa desesperada de ter a admiração, aplausos por algo que não fez. Por crer não conseguir criar, inspirar, produzir algo tão bom, bonito quanto. Desconfigura as palavras, insere outras, passa um pincel sobre o arco-íris da arte para que os outros validem a si e a sua própria farsa. Todo plagiador é uma criança ferida, que não experenciou o aferir da dança dos voos de Manoel de Barros, não teve a paciência de aprender a beber da doçura dos versos: “os passarinhos gostam de mim e de goiaba”. Não navegou pelos caminhos das pedras, das boêmias, de Drummond. Não viajou pelas bagagens, rezas, nem do colo aventurado deste poema: “Meu Deus, me dá a mão, me cura de ser grande”, de Adélia Prado. Tudo de si é maculado para que os outros creiam que fora feito de sua inspiração, do seu suor, de suas lágrimas, de seu amor, do beijo que não foi beijo. Uma ilusão pensar que o criador da obra jamais venha percebe-la a solta por aí toda aborrotada. No fim o criador se sente um pouco lisonjeado até. Todo plagiador tem requintes de sarcasmo de mal gosto e muita cara de pau. Faz do ofício, das criações do poeta, escritores, artistas, escárnio puro. Não seduz por muito tempo, porque pesa, não vinga, não floresce, não próspera em sua arte. Não encanta por lhe faltar duas doses de honestidade e delicadezas.
(Fernanda Fraga, 02 de Abril, 2021)

Sacralizar

No Amor afino o que se soube de suas asas
Do meu voo, verso outras nuvens, o teu reflexo.
E pouso,
Velejo sob mares
Me deito nas conchas mágicas,
Pincelo saudades nas desordens das estações
Anúncio que rememora nossos jardins
Desfolha à alma através das mãos do outro
Iluminâncias ondulares que falam aos olhos a invenção de ti em mim.
Canto nas marquises para acolher o palco do amanhã.
Contigo, sou comunhão.

(Fernanda Fraga, 27/08/2013)

Foto Desconheço autoria.

¶ Publicado originalmente no meu blog antigo – Me Falta Um Pedaço Teu: http://mefaltaumpedacoteu.blogspot.com/2013/09/sacralizar.html?m=1

Sotaque Azul

A gente não entende muito dos propósitos
e despropósitos.
Ou até entende,
mas de uma maneira bem fajuta,
Corremos às vezes para não nos encontrar;
por ter-se a total certeza
que encantar-se com os pássaros;
ou só com os sotaques de remanço,
e toda sua escuta paciente,
Seja a versão definitiva de si.
e o meu peito aquele curto precipício
entre definições, ternuras,
afeições outras
a se ajeitar;
a perfumar agora
os teus largos ombros.
Só sei que desta pétala,
deste verde,
deste ofício terapêutico
que se percebem comuns
sobre nossas mãos ressonantes
Há uma beleza
a se revelar liberta
que se realiza
que se revela outra
todos os dias
que escolhe pra si
e reconhece seus contornos outros
que é possível sim.
Enquanto a gente entende
Há uma elegância
que se percebem
e se afinam em nós
E de todas essas frações
e contornos sentenciados por mim
Há um colorido a me convidar
a delinear os meus inteiros que jamais via.
De todo este sotaque azul,
fui pega para pertencer-me.

(Fernanda Fraga, 09. Fev. 2021)

“Deus disse: Vou ajeitar a você um dom:
Vou pertencer você para uma árvore.
E pertenceu-me.
Escuto o perfume dos rios.
Sei que a voz das águas tem sotaque azul.
Sei botar cílio nos silêncios.
Para encontrar o azul eu uso pássaros.
Só não desejo cair em sensatez.
Não quero a boa razão das coisas.
Quero o feitiço das palavras.”
(Manoel de Barros)

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Foto: Desconheço autoria.