A Dama do Triângulo…

Oohh Uberlândia,
até pelas nuvens
o teu voo me submerge,
As suas várias temporadas,
dos ipês rosas nas praças centrais, feito pompons a rodopiar,
areada de ângulos,
hora urbana,
hora dia,
noite,
hora interior, solar.
Um castelo, um grande vitral;
a dar forma às cirandas,
Ornada de Dama do Triângulo
Feito uma Capital.

(Fernanda Fraga, 27/04/2024)

Infância

Descobri que os ponteiros
não pausarão para trazer-me a infância
Nem fazer brilhar mais estrela-d’alva
eis que cansada ainda saboreio
a taça, o vinho, o pêssego,

Descobri em meio ao breu da noite
a pluma de algum sonho
corri, escondi, tapei os olhos
coberta pela fria garoa
Eis que ainda me vejo nela.

Inaugurou nos parapeitos dos relógios
rezas e glória a Deus
Abri olhos e veio o riso,
ela me cintilava.

(Fernanda Fraga, 03 de Fevereiro de 2024)

Solfejo da Lealdade

Afago este som marrom
para o cair da tarde,
olho a luz
e vou encher o dia
com o seus encantos.
Corre,
rola,
late,
espanta os passarinhos.
Senta,
deita,
desenho a folha da árvore
que entendem ao formato exato
para assim repousar suas sombras,
Espalham ramos e violetas
és uma devoção mútua
da minha incompletude
E nenhuma imagem enseada
mostrou-me na vida à lealdade.

és talvez alguma iguaria nos lares
Das goiabeiras, aos solfejos de Bach
Tens na tarde brotando laranjeiras
em seus pés
Para pastorear o meu melhor.

(Fernanda Fraga, poema Solfejo da Lealdade, 22 de janeiro de 2024)

8″ Sinfonia de Vivaldi as Fernanda’s

Sobre as rosas, duas mulheres
Um jardim para apascentar
toda sua força e delicadezas.

Seus ventos cíclicos e sóis
suas pétalas abrindo notas
sobre suas luas próprias

seus acordes e sorrisos seus
Amanhecem arpejantes
plenamente lindas e clássicas
em todas as escalas
do pentagrama
ao rock in roll.

(Fernanda Fraga, Uberlândia-MG, 27/05/2023)

Sobre o som de Red Hot Chili Peppers

A flor de amor-perfeito

Por entre a flor de abril
todo desejo é coragem,
Um chuvisco devagarinho
em sua única aparição
Deu-se um lanterneiro,
o amor-perfeito em seu quintal

Nem essa natureza
nem toda água dos rios
Tão frágil e forte
tão derradeira
a própria sorte.

É quase tudo isso
e quase nada
Toda a sua beleza
e seus inéditos milagres
se revelam a vida
por entre este resvaloso passo;
à beira,
à casca
que me norteia
A celebrar minha incompletude
e a minha grandeza.
a me devolver
ao que eu sou

Toda montanha de Minas
me corre aos olhos
Amacia os meus cabelos
desacelera este trem,
os trilhos da pele,
Afrouxa os risos
o tempo é atemporal,

O que fica colapsado
no atemporal
deste espaço
é o amor.

(Fernanda Fraga, Minas Gerais 29/04/2022)

Conchas Sonoras

Debruçou os olhos nos meus
Num arabesco indivísivel de nós dois
De nuvens, horizontes e mais nada
Mas ouvia-se conchas sonoras,
Sentia-se a seda destilhada, do puro orvalho e seus sentidos.
Um nácar, desejoso para ouvir e para ser.
Ouvia-se réstias, estivais alargando as íris;
fervores no peito repercutiam
Eram amanheceres, solares;
Insuflações diafragmáticas.
Um silêncio desbravara todos os meus poros, o mar – Amor.
Principiara – repousar sob a brisa
E desfolhara a flor.
Por isso, soltei o vergel dos meus beijos nos teus cílios
Para trazer pra perto.
Como quem concede sabores:

  • Tua lira em algodão-doce
    E se derretiam em nossas bocas.
    Por mãos sem improviso;
    Por versos a desembrulhar as memórias da minh´alma.
    Desdobrara: – O sol de meio-dia;
    Hora que não é meia e nem se repartira
    E tudo, tudo o que pressinto transborda
    Para clarear os olhos, para aconchegar;
    Devorar-se-ia, se soubéssemos, de tudo que nos vem em Prece.
    Em algum trecho, um papel embrulhado, um aceno
    Agora pois…
    Deponho-te sob a plácida Estrela
    Enquanto a lua desponta o Mar.
    Enquanto o que há em mim perdura no clarão dos círios
    Enquanto a saudade infinda
    Enquanto o manto que nos cobriu é volúvel
    Um eco com vãos;
    Que o tempo transmuta
    Diante de uma cascata poética entre meus braços
    Sob tua fuga e o meu caminhar
    A sorvir nos lábios, nas dunas
    Do Mar e de mim.

(Fernanda Fraga, maio de 2012) *Postado originalmente no meu blog antigo: http://mefaltaumpedacoteu.blogspot.com/2012/05/conchas-sonoras.html?m=1

Descuido…

A de se valer o risco,
a tentativa,
O primeiro passo,
a de se querer

Quando o nunca
não custa
nenhum pedaço
Que não te contei

A de se valer o abraço,
alguma alternativa,
o segundo do primeiro beijo,
do primeiro tempo
que não te beijei

Quando no caminho
de algumas horas
Neste chão repete
O correr da vida
E por descuido
Você me viu passar.

(Fernanda Fraga, 21 de Fev. 2022)

Amores (par)tidos

“O Violoncelo de Georg esfola os ouvidos.
Um choro verdadeiro, sôfrego, contindo.
O choro dos amores não correspondidos.” (Lídia Martins)

Uma lança perfurada, nas almas dos aflitos.
Parte enfurecida, desprevenida, nos corpos benditos.
Alegorias encontradas,
solfejo permitido, ardente,
Mas (par)tido.

(Fernanda Fraga, 01 de Outubro de 2011)

Postado originalmente em meu blog antigo:
http://mefaltaumpedacoteu.blogspot.com/2011/10/amores-partidos.html?m=1

Pincéis do Pintor…

Raio que rasga do infinito
Arrancando o resto que ficou.

Recortando em papéis
Os fios que restou.

Raio que rasga rugindo
Raivando na rua o medo, o temor.

Raio que rasga no céu
Rebuscando a raiz que estrelou.

Raio que rasga no arco-íris
Repitando as cores do Amor.

Arranhando todas as partes
Das faces do desamor.

Raio que rasga na rapidez
Da rispidez que raiou.

Raio que rasga nos pincéis
Dos beijos-róseos do pintor.

(Fernanda Fraga, poema Pincéis do Pintor, 14 de Janeiro de 2012)

Postado originalmente no me blog antigo: http://mefaltaumpedacoteu.blogspot.com/2012/01/pinceis-do-pintor.html?m=1